Uma analise historico conceitual dos megaeventos esportivos e seus desdobramentos na cidade contemporanea. - Vol. 41 Núm. 123, Mayo 2015 - EURE-Revista Latinoamericana de Estudios Urbanos Regionales - Libros y Revistas - VLEX 636788153

Uma analise historico conceitual dos megaeventos esportivos e seus desdobramentos na cidade contemporanea.

AutorAndreoli, Marcelo
CargoArtículo en portugués

RESUMO | A desregulamentação econômica em países mais desenvolvidos e a crescente internacionalização do capital contribuíram para emergência dos processos globais, definindo uma nova conjuntura para cidades. Neste contexto o planejamento estratégico, os Grandes Projetos Urbanos e os Megaeventos esportivos tornam-se ferramentas de um discurso hegemônico, com benefícios pautados sobre um cenário global competitivo. O desenvolvimento do pensamento acerca dos Megaeventos esportivos nos remete a questões para compreensão deste fenômeno enquanto política de reestruturação urbana. O presente artigo discute os conceitos de Grandes Projetos Urbanos e Megaeventos esportivos para a construção da imagem Olímpica. Dentre os resultados destacam-se os Grandes Projetos Urbanos como estruturas diferenciadas na malha urbana, pois não representam o suprimento das necessidades de uma população real, mas desenvolvem demandas virtuais assumindo características de política urbana. O trabalho conclui que a estruturação das cidades tem sido transferida para as forças privadas que carecem de alternativas para construção da justiça urbana.

PALAVRAS-CHAVE | competitividade urbana, gestão urbana, transformações sócioterritoriais.

ABSTRACT | Economic deregulation in most developed countries and increasing internationalization of capital have contributed to the emergence of global processes, defining a new environment for cities. In this context, strategic planning, Mega Urban Projects, and Mega-Sports events have become tools of a hegemonic discourse, being associated with benefits within a competitive global scenario. The development of thinking on Mega-Sports events leads us to questions the understanding of this phenomenon as a policy of urban restructuring. This article discusses the concepts of urban mega projects and mega-sports events regarding the construction of an Olympic image. Among the results, it has been found that urban mega projects represent differentiated structures within the urban context, as they do not support the fulfillment of the needs of the real population, but rather develop virtual demands. The paper concludes that the determination of the structure of cities has been transferred to the private sector forces that lack alternatives for the urban construction of social justice.

KEYWORDS | urban competitiveness, urban management, socio-territorial transformations.

A introdução do conceito: um histórico de Grandes Projetos Urbanos

Após a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos assumiram uma postura de hegemonia econômica mundial, advinda principalmente de sua vitoriosa empreitada bélica, assim como do sucesso de sua iniciativa na regulamentação monetária internacional. Neste momento um novo cenário capitalista se fortalece pela de participação do Estado enquanto regulador da economia e fomentador de um desenvolvimento econômico promovido, majoritariamente por meio de políticas fiscais e financiamentos públicos (Maia, 2011).

A ordem de crescimento da produção industrial, baseada no modelo Fordista-Keynesiano (Harvey, 1992,p. 119) estabeleceu-se até o início dos anos 70, quando uma nova condição mundial passou a vigorar. Em decorrência da reconstrução europeia, ascensão do Japão no cenário produtivo, aumento da competitividade, declínio econômico norte-americano, quebra da base dólar e crise do petróleo, até então principal insumo energético, estabeleceu-se um cenário de estagnação econômica cuja consequência foi a reestruturação internacional que deu fim ao ciclo produtivo vigente até então.

As transformações sofridas nos anos 70 tornaram-se fundamentais para a compreensão dos acontecimentos mundiais das décadas subsequentes, de 80 e 90, pois representaram uma ruptura no modelo produtivo, inserindo novos cenários econômicos para a manutenção do capitalismo, e consequentemente uma nova condição social passou a ser construída.

Alguns aspectos sócio-políticos tomam especial atenção na explicação e compreensão de fenômenos posteriores, que garantiram o declínio das políticas de bem-estar social do pós-guerra e a "reciclagem dos princípios liberais" (De Oliveira, 2009, p. 3). Dentre eles, destacam-se a decadência de antigos polos industriais e a adoção do planejamento estratégico, em detrimento do planejamento tradicional. As transformações urbanas fizeram emergir a condição mercantil das cidades, principalmente nas grandes metrópoles, que concentravam o capital produtivo. O cenário de precedência da instância política sobre a econômica ganha agora novas configurações, concebidas pelo alinhamento das lógicas das grandes empresas, internacionais ou nacionais, com a política interna ou internacional de cada país (Santos, 2008, p. 255).

Neste processo de transformações, que se refletem também territorialmente, os antigos polos industriais são afetados pelas novas dinâmicas sociais. Há um acréscimo de pessoas envolvidas no setor terciário em países de capital desenvolvido, e um excedente de mão de obra industrial em países com o capitalismo menos desenvolvido. A despeito disto, ocorreu naturalmente a expansão das unidades produtivas para os países periféricos, e a consequente derrocada da base industrial em países centrais.

Neste cenário de reestruturação político-social mundial, de desemprego na Europa devido ao declínio de seu polo industrial, de déficit econômico e altas taxas de inflação, e os Estados Unidos ainda se reestabelecendo da crise econômica de 73, uma nova dinâmica de combate a crise foi imposta, principalmente nos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan.

Os impactos das novas configurações sociais se reproduzem fisicamente na malha das cidades. Entre as diversas expressões urbanas deste período, a reutilização de áreas industriais se intensifica a fim de alavancar novos usos para espaços que tornaram-se degradados ou subutilizados ao longo dos últimos 25 anos (Somekh & Campos, 2005, p. 1).

Em face destas políticas neoliberais, o planejamento estratégico surge como ferramenta de reformulação de cidades que buscavam soluções imediatas para suas novas problemáticas urbanas, passando a privilegiar os ganhos em curto prazo em detrimento das modificações em um longo período. A emergência de uma nova condição, na qual o capital privado e a flexibilização urbana se associam ao inchaço do setor terciário, promoveram a expansão imobiliária enquanto ferramenta de regulação urbanística, assim como um instrumento rentável para grupos investidores, favorecendo uma ideia de eficiência do novo modelo de planejamento urbano. Com isso o planejamento estratégico se fortalece como discurso crítico em relação ao planejamento urbano tradicional (Güell, 1997), compartilhando de elementos da gestão administrativa empresarial dentro da escala urbana e estabelecendo-se sobre políticas de marketing urbano.

A considerada limitação dos modelos tradicionais de planejamento de cidades em oferecer suporte aos possíveis novos investimentos e as transformações urbanas exigidas, contribui para a defesa de um planejamento estratégico como único meio eficaz frente aos novos processos de globalização. A ênfase na competição urbana é, portanto, uma das condicionantes neste processo, no qual o Estado torna-se ator responsável pela promoção da cidade, considerado saudável na medida em que municípios competem para atração de investimentos e fomentam o crescimento de cidades globais numa totalidade (Güell, 1997). Ao mesmo tempo, os processos de competição global pela busca de investimentos, instauram a "guerra entre os lugares, expressão emblemática da subsunção do mundo e da vida contemporâneos à lógica do capital nesses tempos de desmedia empresarial" (Sánchez et al, 2004, p. 42).

A condição exposta acima demonstra a crítica ao modo de apreensão do modelo estratégico de planejamento, no qual a competição urbana evidencia um desenvolvimento territorial desigual (Lungo, 2005), privilegiando as elites financeiras da sociedade, que se tornam capazes de usufruir do novo espaço comercializado, enquanto que o planejamento urbano encontra-se cada vez mais omisso aos problemas estruturais da sociedade.

A compreensão da necessidade da inclusão em um mercado globalmente competitivo exige das cidades medidas de atração de capitais, utilizando-se de parcerias reconhecidas pela associação dos interesses do estado com os interesses da iniciativa privada. A concepção destas parcerias público-privadas, e da condição de unificação de interesses, estabelece a cooperação entre atores edificando a base do pensamento de um "Projeto de Cidade" (Castells & Borja, 1996). Porém, a incorporação de novos atores aos processos urbanos, buscando o resultado financeiro promovido pela exposição da cidade através do "marketing urbano", reduz a construção social-histórica a um elemento mercantilizado no qual a cidade torna-se mercadoria e o direito à cidade passa a ser proporcional ao índice de solvência da população (Vainer, 2000, p. 78).

A cidade considerada sobre bases comerciais torna-se um objeto lucrativo em que procedimentos de city marketing são essenciais para a reprodução dos investimentos. Esta postura, fruto de uma relação público privada, desenvolve um novo método de gestão urbana, chamado por Harvey (1996) de empresariamento urbano. Reconhecido pela capacidade de dinamizar investimentos e promover desenvolvimento econômico por meio da compreensão de problemas pontuais, o empresariamento urbano propõem um olhar parcelar sobre a cidade orientado para práticas especulativas de reestruturação de áreas, fortalecendo uma cidade com direcionamentos de recursos assimétricos (Malengrau, 2013), transformando-as em palcos de competição na busca pela atração de investimentos.

Em um contexto competitivo a construção de ícones arquitetônicos eleva o poder simbólico da cidade, desenvolvendo sentimentos ufanistas patrióticos, além de criar imagens que contribuem com o apaziguamento de revoltas. Conforme anunciado por Debord (1997), "as simples imagens...

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