Estrutura setorial e distribuicao de ocupacoes nas regioes brasileiras, 2006-2011. - Vol. 42 Núm. 126, Mayo 2016 - EURE-Revista Latinoamericana de Estudios Urbanos Regionales - Libros y Revistas - VLEX 641610441

Estrutura setorial e distribuicao de ocupacoes nas regioes brasileiras, 2006-2011.

AutorFochezatto, Adelar
CargoTexto en portugues - Ensayo

Na literatura regional recente se observa um interesse crescente no uso de informacoes de emprego por tipo de ocupacao. Isso se deve ao surgimento de uma nova economia ancorada em tecnologias que permitem uma maior flexibilidade na organizacao da producao, resultando em uma separacao de funcoes em diferentes espacos geograficos e uma maior fragmentacao da producao. As empresas podem alocar suas atividades de pesquisa, inovacao e desenvolvimento em algumas regioes e as atividades mais rotineiras em outras, resultando em especializacoes funcionais regionais. Nesta pesquisa, pretende-se verificar as diferencas entre as estruturas de emprego por ocupacoes nos estados brasileiros em relacao a media nacional. Os resultados encontrados mostram que as diferencas sao significativas, principalmente em ocupacoes mais intensivas em conhecimento. Essas informacoes indicam que as tradicionais estrategias, baseadas apenas em setores ou empresas, podem ser insuficientes para a promocao do desenvolvimento regional.

PALAVRAS-CHAVE | economia regional, concentracao espacial, mercado de trabalho.

ABSTRACT | The recent regional literature has shown a growing interest in the use of employment information by sectorial occupation. This is due to the emergence of a new economy anchored in technologies which allow greater flexibility in the organization of production, resulting in a separation of functions in different geographic areas and greater production fragmentation. Companies can locate research, innovation and development activities in some specific regions while placing operational activities in others, which lead to regional functional specializations. This research analyzes the differences between the structures of occupations in Brazilian states compared to the national average. The results point out that the differences are significant, especially for knowledge-intensive occupations. This information indicates that traditional strategies based on sectors or companies only may be insufficient for promoting regional development.

KEYWORDS | regional economy, spatial concentration, labor market.

Introducao

O uso de indicadores de estrutura produtiva, geralmente baseados em informacoes de empregos por setores, tem sido muito frequente nas avaliacoes de desempenho economico regional e na elaboracao de politicas de desenvolvimento (Koo, 2005a). No entanto, como a estrutura do emprego dentro dos setores pode variar consideravelmente entre as regioes, cada vez mais os analistas regionais utilizam outras informacoes, alem da estrutura de emprego setorial. Uma informacao amplamente disponivel nas bases de dados, inclusive no Brasil, e a estrutura de ocupacoes por setores e por regioes1. As estruturas de emprego setorial e ocupacional sao informacoes muito distintas. Enquanto que os empregos classificados por setores produtivos se assemelham apenas em relacao ao tipo de produto produzido, os empregos classificados por ocupacoes apresentam semelhancas em termos de funcoes exercidas pelos empregados nos processos produtivos. Neste caso, portanto, os empregos possuem caracteristicas similares em termos de conhecimentos e habilidades necessarios para exercer a funcao.

Dentro dos setores, geralmente ha uma variabilidade muito grande de funcoes e, portanto, de ocupacoes. Nos ultimos anos, houve um aumento da mobilidade das empresas e da fragmentacao produtiva das mesmas atraves dos espacos geograficos. No entanto, isto nao significa que esteja havendo uma disseminacao generalizada das ocupacoes, dado que dentro do mesmo setor, em diferentes locais, as estruturas ocupacionais ou funcionais podem ser bem distintas. Em tese, e possivel, em uma regiao, haver uma alta heterogeneidade de setores e, ao mesmo tempo, uma alta homogeneidade de ocupacoes. Neste caso, poderia se falar em especializacoes funcionais. Alem disso, como as ocupacoes representam habilidades funcionais, e possivel imaginar que a mobilidade de trabalhadores tende a ser maior entre empresas do que entre ocupacoes dentro da empresa.

Na moderna divisao espacial do trabalho, um setor pode, por exemplo, ter unidades produtivas com mao de obra mais qualificada e pagamento de altos salarios em um lugar e unidades produtivas com mao de obra menos qualificada e pagamento de baixos salarios em outro lugar. Assim, sob o ponto de vista das politicas de desenvolvimento, nao basta atrair um determinado setor de atividade, e preciso analisar tambem o perfil de ocupacoes que ele ira ter na regiao. Particularmente no caso brasileiro, entre os instrumentos mais usados para a atracao e retencao de empresas tem sido a adocao de politicas publicas de incentivos fiscais e de melhoria da infraestrutura de transportes e de energia. Como, nesses casos, a atencao e direcionada para as empresas, principalmente dos setores produtivos industriais, as estrategias de atracao tem se restringido a melhorias nas condicoes de producao e no escoamento dos produtos.

Neste estudo, o objetivo e verificar em que medida as estruturas do emprego setorial e ocupacional entre os estados brasileiros diferem entre si, controlados pelas diferencas de estruturas setoriais do emprego. Em termos mais especificos, o objetivo e verificar se a estrutura ocupacional de uma regiao pode ser deduzida da sua estrutura setorial ou vice-versa. Caso os niveis de emprego das ocupacoes projetados para as regioes, usando a estrutura de ocupacoes por setor da economia brasileira, sejam iguais ou muito proximos dos existentes, entao e possivel usar apenas a tradicional estrutura de emprego setorial. Isto porque, neste caso, o mix ocupacional dos setores e parecido entre as regioes. Esta tem sido uma suposicao implicita na grande maioria dos estudos regionais. No entanto, se as estruturas ocupacionais do emprego dos setores diferirem significativamente entre as regioes, entao a deducao do mix ocupacional a partir do setorial nao sera mais possivel. Neste caso, as analises e as estrategias de desenvolvimento regional devem considerar as duas estruturas em paralelo.

Para analisar o grau de discrepancia das estruturas de emprego setoriais e ocupacionais entre os estados, utilizam-se dados de emprego por setor e ocupacao da RAIS/ Ministerio do Trabalho e Emprego, disponiveis em www.mte.gov.br. A confrontacao dos valores calculados com valores efetivos fornece o grau de discrepancia do emprego em cada ocupacao e unidade da federacao. Alem disso, e calculada uma medida de discrepancia global entre os empregos calculados e efetivos para cada unidade da federacao. Com isso, e possivel verificar em que regioes e tambem em que setores as diferencas sao mais significativas. Esses resultados sao importantes para testar hipoteses sobre em quais os tipos de setores a estrutura ocupacional interna se mantem e em quais ela difere. A titulo de exemplo, uma questao que pode ser interessante e agrupar os setores por intensidade tecnologica e verificar se os mais intensivos em tecnologia possuem diferencas relativamente maiores em suas estruturas ocupacionais entre as regioes.

No Brasil existem poucos estudos usando a estrutura ocupacional como um fator de competitividade e crescimento regional. Entre eles, pode-se destacar Maciente (2012a; 2012b) e Nascimento (2012), os quais analisam as mudancas das estruturas produtivas regionais e seus potenciais impactos sobre o emprego e as demandas por habilidades laborais. Com esses estudos, os autores pretenderam melhorar a previsibilidade dos tipos de suprimento de educacao profissional que os mercados de trabalho regionais demandarao, bem como compreender como mudam as estruturas ocupacionais em firmas e setores nas varias regioes.

Alem desta introducao, o trabalho esta estruturado com mais quatro secoes. Na segunda secao e feita uma breve revisao da literatura teorica e empirica sobre o tema em estudo. Na terceira secao e desenvolvida a metodologia utilizada. Na quarta, sao analisados os principais resultados encontrados. Por fim, na quinta secao, sao apresentadas as principais conclusoes do trabalho.

Revisao bibliografica

Nas teorias tradicionais de desenvolvimento economico, a transformacao da estrutura produtiva e um elemento central para a compreensao da dinamica economica de longo prazo. Essas transformacoes, em geral, seguem um padrao; a partir de uma economia baseada em atividades primarias, as transformacoes traduzem-se, inicialmente, em um crescimento relativamente maior do setor secundario e, posteriormente, do setor terciario (Rostow, 1971). Em linhas gerais, pode-se dizer que essas mudancas sao induzidas por alteracoes na demanda de produtos, pelo surgimento de novas tecnologias de producao e pelo estabelecimento de novos fluxos comerciais com o exterior. Assim, o processo de transformacao estrutural de uma economia em desenvolvimento resulta em uma constante alteracao da importancia relativa dos setores na economia, sendo que em cada momento ha setores em expansao e outros em declinio. Nessas teorias, portanto, as analises sao predominantemente focadas em estruturas produtivas setoriais. Em decorrencia disso, na perspectiva regional, uma estrategia muito difundida de desenvolvimento tem sido a atracao de investimentos empresariais, preferencialmente de empresas ou setores industriais considerados modernos.

Os principais teoricos do desenvolvimento regional, que desde meados do seculo passado, vem influenciando a producao de estudos academicos e de projetos de desenvolvimento, formularam suas teses a partir de informacoes de estruturas produtivas setoriais. A teoria da Base Exportadora (North, 1955), que classifica os setores economicos em basicos e nao basicos, exerceu grande influencia na elaboracao de estudos baseados em estruturas produtivas setoriais. Alem da base exportadora, destacam-se a teoria dos Polos de Crescimento (Perroux, 1950); a da Causacao Circular Cumulativa (Myrdal, 1957); e a dos Efeitos de Encadeamento para tras e para frente (Hirschman, 1958). Estas teorias...

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